A Canonicidade da Bíblia
Perguntas: Que livros fazem parte da Bíblia? Como foi que a Bíblia veio a ser composta de 66 livros? Alguns livros foram retirados da Bíblia? Porque as Bíblias católicas possuem mais livros que as Bíblias protestantes?
1.Definição
A palavra cânon, deriva do grego kanõn (”cana, régua”), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa “vara ou cana de medir” (Ez 40.3), tem sido traduzida em nossas versões em português como, “regra”, “norma” e significa, literalmente, vara ou instrumento de medir. Tem sido utilizada, de forma figurada, para identificar a regra ou critérios que comprovam a autenticidade e inspiração dos livros bíblicos; a lista dos Escritos Sagrados; sendo, também, sinônimo de escrituras - como a regra de fé e prática investida de autoridade divina.
Quando a Bíblia foi escrita, cada rolo foi produzido em separado. Podemos observar Jesus, na sinagoga, pedindo “o rolo do profeta Isaías” (Lc 4.17). A divisão em capítulos foi introduzida pelo professor universitário parisiense Stephen Langton, em 1227, que viria a ser eleito bispo de Cantuária pouco tempo depois. A divisão em versículos foi introduzida em 1551, pelo impressor parisiense Robert Stephanus. Ambas as divisões tinham por objetivo facilitar a consulta e as citações bíblicas, e foi aceita por todos, incluindo os judeus.
2.Teste de Canonicidade
O agrupamento dos rolos, para a formação da Bíblia e a definição de quais os rolos eram, de fato de autoridade divina, foi um processo guiado por Deus, através dos concílios, nos quais a autoridade dos livros sagrados foi reconhecida. Esse processo levou algum tempo e foi feito seguindo critérios como a autoridade do autor, o conteúdo do livro, o valor profético e a confiabilidade, o reconhecimento da comunidade judaica ou cristã, entre outros. A seleção do cânon continuou até que cada livro provasse o seu valor, passando pelos testes de canonicidade. Não sabemos quais os critérios exatos, adotados pela Igreja, para identificar a canonicidade dos livros da Bíblia. Geisler e Nix registram esses cinco princípios:
1. Revela autoridade? - Veio da parte de Deus? (Esse livro veio com o autêntico “assim diz o Senhor”?)
2. É profético? - Foi escrito por um homem de Deus?
3. É autêntico? (Os pais da igreja tinham a prática de “em caso de dúvida, jogue fora”. Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.”)
4. É dinâmico? — Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?
5. Foi aceito, guardado, lido e usado? — Foi recebido pelo povo de Deus?
Pedro reconheceu as cartas de Paulo como Escrituras em pé de igualdade com as Escrituras do Antigo Testamento (2 Pedro 3:16).
3.Canonicidade do Antigo e do Novo Testamento
O Novo Testamento se refere ao Antigo Testamento como escritura (Mt 23.35; a expressão de Jesus equivaleria dizer hoje “de Gênesis a Malaquias”; cf. Mt 21.42; 22.29). Jesus também fez referência às três divisões da Bíblia Hebraica - a Lei, os Profetas e os ‘Escritos’, em Lc 24.44. Ele também faz referência em Mt 23.35 e Lc 11.51, aos mártires do AT, citando Abel (Gn 4.8) e Zacarias (2Cr 24.21), cujas mortes foram registradas, na ordem da Bíblia Hebraica, o primeiro e o último livros do AT.
Sendo o Antigo Testamento a Bíblia Hebraica, a definição do Cânon deste foi feita pelo povo judeu. Alguns afirmam que todos os livros do cânon do A.T. foram reunidos e reconhecidos sob a liderança de Esdras (quinto século a.C.). O Sínodo de Jamnia (90 A.D.) foi uma reunião de rabinos judeus que reconheceu os livros do Antigo Testamento.
A definição do cânon do Novo Testamento foi feita pela igreja. O primeiro concílio eclesiástico a reconhecer os 27 livros que o compõe foi o concílio de Cartago, em 397 DC., ficando, assim, definido o cânon de toda a Bíblia, com os atuais 66 livros.
4. A Diferença entre a Bíblia Evangélica e a Bíblia Católica
Muitos outros livros foram produzidos em Israel e pela comunidade judaica e cristã, dos quais alguns têm valor literário e histórico, mas não foram aprovados como sendo de autoridade divina e inspirados por Deus. Alguns deles foram inseridos, posteriormente, na Bíblia – os chamados livros apócrifos.
A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento produzida entre o terceiro e o segundo século a.C.) incluiu os apócrifos com o Antigo Testamento canônico. Jerônimo (c. 340 - 420 DC), ao traduzir a Vulgata (uma versão da Bíblia traduzida para o latim), distinguiu entre os livros canônicos e os eclesiásticos (que eram os apócrifos), e essa distinção acabou por conceder-lhe uma condição de canonicidade secundária. Ao todo, são sete livros e alguns capítulos, que foram acrescentados à Bíblia, que hoje é utilizada pelos católicos, os quais são: I e II Macabeus, Tobias, Judite, Eclesiástico, Sabedoria de Salomão e Baruque, além de acréscimos aos livros de Ester (do capítulo 10.4 ao 16.24) e Daniel (A Canção do Três Rapazes - Dn 3.24-90 - A história de Susana – Dn 13 - e Bel e o Dragão – Dn 14); todos no Antigo Testamento.
Estes livros foram inseridos, oficialmente, na Bíblia utilizada pelos católicos, no dia 8 de Abril de 1546, no Concílio de Trento, como meio de combater a Reforma protestante, pois algumas doutrinas católicas são apresentadas neles, tais como: purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. Até o ano de 1629 algumas Bíblias produzidas pelos reformadores, como a famosa “King James”, ainda traziam os livros apócrifos, sendo totalmente excluídos desde então.
As igrejas evangélicas rejeitam os livros apócrifos pelas seguintes razões: a) o cânon do Antigo Testamento foi fechado até o livro de Malaquias, e os apócrifos foram escritos depois disto; b) eles não foram aceitos pela comunidade judaica e cristã, incluindo os pais da igreja e nunca foram citados por Jesus ou pelos apóstolos; c) contém ensino contrário à Bíblia, incluindo justificação pelas obras (Tobias 4.7-11; 12.8; Eclesiástico 3.33,34), mediação dos Santos (Tobias 12.12; II Macabeus 7.28 e 15.14), superstições (Tobias 6.5, 7-9, 19), a oração culto e missa pelos mortos (Tobias 12.44-46), ensinam atitudes anticristãs, como: vingança, crueldade e egoísmo (Judite 9.2; Eclesiástico 12.6), entre outros.
Podemos afirmar que não foram as igrejas evangélicas que eliminaram estes livros da Bíblia, mas a Igreja Católica Romana que os inseriu, sendo rejeitados por todas as igrejas evangélicas, anglicana e ortodoxa grega.
Conclusão
A Bíblia Sagrada é o Livro dos livros; a Palavra de Deus e a nossa única regra de fé e prática. Sua leitura é fundamental para o conhecimento de Deus; fora dos seus ensinamentos não podemos conhecê-lo, nem adorá-lo de forma correta. Precisamos, portanto, amar a Bíblia, estudar o seu conteúdo e adora o seu autor.
Obras Consultadas:
GEISLER, Norman e NIX, William. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Editora Vida. 1997.
MCDOWELL, Josh . Evidência que exige um veredito: evidências históricas da fé Cristã. São Paulo. Editora Candeia, 1996.
Márcio Klauber Maia