Os Filhos de Maria
“Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso?” (Mateus 13.55).
A Bíblia é a nossa fonte de revelação e sabedoria e não podemos ir além do que está escrito, qualquer que seja o assunto a ser discutido (1 Co 4.6). Os irmãos de Jesus são citados nove vezes nos evangelhos (Mateus 12.46; 13.55; Marcos 3.31; 6.3; Lucas 8.19; João 2.12; 7.3,5,10) e uma vez nos Atos dos Apóstolos (Atos 1.14) e duas vezes são também mencionadas suas irmãs (Mateus 13.56; Marcos 6.3). A interpretação natural é que sejam filhos de Maria e José. Entretanto, outras possibilidades têm sido propostas, com vistas a resolver este dilema e sustentar alguns dogmas. São estas as principais:
1. Estes seriam primos e não irmãos de Jesus, filhos de Alfeu e de Maria, a tia de Jesus.
2. Seriam filhos de José, de um casamento anterior.
3. Seriam filhos de Maria e José e, portanto, irmãos de Jesus.
Examinemos cada uma delas detalhadamente:
1. Seriam primos de Jesus
Alguns defendem esta posição argumentando que a palavra hebraica "Ha" é geralmente traduzida para "irmão" e que os judeus daquele tempo empregavam essa palavra num sentido mais amplo para expressar parentesco, pois não existiam termos em hebraico para expressar os diferentes níveis e graus de parentesco. "Irmão" pode significar os filhos do mesmo pai e todos os membros masculinos do mesmo clã ou tribo. Entretanto, no grego do NT, o termo irmão (adelfós) nunca é usado no sentido de primo. O idioma original do NT usa uma palavra diferente para falar de primo ou sobrinho (anepsiós – Marcos, primo de Barnabé – Cl 4.10) e outra ainda para parentes (syngenes – Isabel, prima de Maria – Lc 1.36), que aparece 14 vezes no NT, com variações. Quase todos os escritores do NT, como Lucas e Paulo, escreveram para leitores gentios, que falavam grego. Daí, não faz sentido que eles quisessem preservar o sentido do hebraico ou aramaico, que não seria compreendido por eles. Somente autores que escreveram para um público judeu preservaram as palavras em aramaico, como Marcos. Para justificar esta posição, assume-se que estes homens eram filhos da tia de Jesus, irmã de Maria (João 19.25), também chamada Maria, casada com Clopas, também chamado Cleofas (Mt 27.56; 20.20; Mc 15.40; Lc 24,10). Este seu marido seria o mesmo Alfeu, pai de Tiago Menor, José e Judas e, talvez, de Mateus (Mt 10.3; Mc 2.14; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Embora muitas personagens bíblicas tenham dois nomes, não há referência que Clopas seja o mesmo Alfeu. Nomes como Tiago (Jacó), José e Judas (Judá) eram muito comuns, de forma que não passa de especulação dizer que os irmãos de Jesus eram filhos de Alfeu.Esta teoria é sustentada unicamente para tentar mostrar que Maria não teria tido outros filhos, além de Jesus, a fim de sustentar o dogma da eterna virgindade de Maria, mas isto não encontra respaldo algum nas Escrituras. Aqueles que afirmam que Maria fez um voto de virgindade baseiam-se num livro apócrifo: o Protoevangelho de Tiago (2.9), com manuscritos datados do III século d.C. Este livro também fala do nascimento de Maria, que teria sido criado no templo (impossível para uma mulher) e outras histórias fantasiosas.
2. Seriam filhos apenas de José, de um primeiro casamento.
O Evangelho do Pseudo-Tomé (apócrifo), menciona um filho, Tiago, do primeiro casamento de José (1.16). Também no apócrifo “História de São José”, os quatro irmão de Jesus (Judas, Simão, José e Tiago), mais duas irmãs (Lídia e Lísia) são mencionados como frutos de um primeiro casamento do pai adotivo de Cristo.José teria ficado viúvo, tendo quatro filhos. Então, teria casado com Maria, com o objetivo de dar-lhe proteção e para que ela não ficasse sem marido
3. São irmãos de Jesus, filhos de Maria e José.
Os irmãos de Jesus não podem ser os filhos de Alfeu, que eram discípulos do Mestre, pois a Bíblia afirma que Seus irmãos inicialmente não criam nele (João 7.3,5), não faziam parte do grupo de Seus discípulos e chegaram mesmo a se oporem ao Seu ministério (Marcos 3.21). Nem eles mesmos se consideravam discípulos. Em diversas passagens das Escrituras, Jesus está com Seus discípulos e então chegam seus irmãos. Em Mateus 12.46 e Marcos 6.3, Jesus estava em Sua missão, junto com Seus discípulos. Então, seus irmãos chegam. Portanto, eles não faziam parte do grupo. Em Marcos 3.20,21, eles chegam a querer prendê-lo, julgando-o insano. Se estes irmãos fossem Tiago Menor e outros discípulos, eles estariam no grupo dos discípulos e jamais se oporiam ao ministério de Cristo.Em todas as vezes que estes irmãos sãos mencionados em conjunto, estão em companhia de Maria. Se esta fosse sua tia e não sua mãe, seria estranho ver que, embora sua mãe estivesse viva, eles prefeririam andar com sua tia, em lugar de sua progenitora. Em nenhum texto das Escrituras estes irmãos são mencionados como primos de Jesus, mas apenas como irmãos.Em outros textos, os irmãos de Jesus são distinguidos dos discípulos dele (João 2.12; Atos 1.14; Gálatas 1.19; 1 Coríntios 9.5), deixando claro que eram grupos distintos de pessoas.Quando Jesus foi crucificado, seus irmãos não estavam lá, apenas sua mãe, pois eles não criam em Cristo. Por isso, Jesus deixou sua mãe aos cuidados do apóstolo João (João 19.26,27). Num momento de dor, quando Maria precisaria de apoio espiritual, certamente os discípulos estavam mais habilitados a isto do que seus próprios irmãos, que depois se tornaram seus discípulos, quando viram Jesus ressuscitado (1 Coríntios 15.7). Em Gálatas 1.19, Tiago é chamado de apóstolo e de “o irmão do Senhor”. Se o termo estivesse sendo usado no sentido de discípulo, todos os outros apóstolos estariam na mesma condição. Ele é distinguido assim de Tiago, filho de Zebedeu (Mateus 14.21; 10.2; Marcos 1.19; 3.17) e de Tiago, filho de Alfeu (Mateus 10.3; Marcos 3.18; Lucas 6.15; Atos 1.13), que figuravam entre os doze apóstolos. Se Paulo estivesse usando “irmão” no sentido de “primo”, para um grupo de leitores que não compreendiam o sentido semita, ele seria um péssimo comunicador.
Existiam pelo menos três Tiagos no Novo Testamento:
1. Tiago, irmão de João (Mateus 10.2;): Discípulo de Jesus, Filho de Zebedeu e de Salomé, este foi assassinado no início do Cristianismo, veja Atos 12.2;
2. Tiago, filho de Alfeu (Mateus 10.3; Marcos 15.40, 1º Coríntios 15.7): Discípulo de Jesus, Também chamado de Tiago, o Menor, para diferenciar do outro discípulo. Este era o filho da Maria que estava presente na crucificação e tinha também um irmão chamado Judas (Atos 15.40);
3. Tiago, irmão do Senhor (Mateus 13.55; Gálatas 1.19, atos 15.13) Este era o irmão uterino de Jesus, tinha também um irmão chamado Judas, pois era comum haver muitas pessoas com nomes iguais, como vimos. Este foi o autor da Carta.
Ter filhos era uma bênção, notadamente numa época em que o sustento da família dependia do trabalho braçal. E Deus abençoou o casal José e Maria com outros filhos, tornando-os bem-aventurados (Sl 127.3,5). Cremos, pois, que José e Maria eram, de fato, os pais de Tiago, José, Simão e Judas, além de mais duas mulheres. Maria foi agraciada com o fato de ser a mãe de Jesus e também de ter outros filhos, para glória de Deus.
Obras consultadas:
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 2. 6ª edição. São Paulo: Hagnos, 2002.
Sites consultados:
https://revistacatolica2.vilabol.uol.com.br/mariapolemicas.html em 31/03/2008.
https://www.pesformosos.org/?pg=ver_artigo&id=4 em 31/03/2008.