Espiritualidade de Deus
Leitura: Jo 4.24
1. Definição
Deus é uma pessoa, mas não possui uma natureza corpórea, como os homens ou os animais. Ele não possui um corpo, nem é composto de partes, por isto não está sujeito ao tempo e ao espaço. Jesus referiu-se a esta característica de Deus, dizendo: “Deus é Espírito” (Jo 4.24). Ele também definiu o que isto significa, quando afirmou: “um espírito não tem carne nem ossos” (Lc 24.39). O profeta Isaías também apresenta em um paralelismo esta característica divina: “Porque os egípcios são homens e não Deus; e os seus cavalos, carne e não espírito” (Is 31.3). O homem possui um espírito, que compõe a sua parte imaterial, mas não representa o seu humano completo e foi criado por Deus (Ec 12.7). Os anjos são seres espirituais, porém limitados e também criados por Deus (Hb 1.14). Deus é Espírito, e o autor da epístola aos Hebreus refere-se a ele como: “o Pai dos espíritos” (Hb 12.9).John L. Dagg[i] dá a seguinte definição: “o vocábulo espírito é empregado para denotar uma entidade imaterial e inteligente, ou um ser, um entidade destituída das propriedades peculiares à matéria, embora possuidora de propriedades análogas àquelas que caracterizam a mente humana. Nesse sentido, Deus é um espírito. Ele não tem extensão, não é sólido nem divisível, como se fosse uma rocha, uma árvore ou um corpo humano; no entanto, Ele pensa e tem vontade própria, e isso livre de qualquer imperfeição.
2. A aparência divina
Porque Deus é incorpóreo, Ele não possui aparência e é invisível (1Tm 1.17). Por esta razão, ele proibiu qualquer tentativa de representação física, através da confecção de imagens de escultura (Ex 20.4). Quando Deus quis revelar-se aos homens, ele assumiu forma, como, por exemplo, nas aparições do Anjo do Senhor (Gn 18.1-16; Ex 3.10-4; Js 5.13-15; Jz 13.3), no Antigo Testamento (as chamadas teofanias). Entretanto, Jesus ensinou que ninguém jamais viu a Deus (Jo 1.18). Quando alguém afirma ter visto Deus, não significa que viu a pessoa divina, em sua essência, mas uma aparição divina; uma manifestação da sua glória.Quando a Bíblia refere-se a partes do corpo de Deus, como mão (Is 59.1), ouvido (Is 59.1), pé (At 7.49), olho (1Pe 3.12) e narinas (Sl 18.15), ou ainda quando diz que ele assenta-se (Is 6.1) ou levanta-se (Is 3.13), trata-se de uma expressão da linguagem humana, a fim de compreendermos o infinito por meio das coisas finitas. É o que na teologia chama-se de antropomorfismo, que significa atribuir a Deus características humanas. Quando a Bíblia refere-se às asas de Deus (Sl 57.1), claramente percebemos tratar-se de uma linguagem figurada.
3. Relação desta característica com as demais
Sendo um espírito, Deus é o único ser infinito. Todos os corpos são finitos e limitados e temporais, pois são compostos de partes. Sendo um espírito, Deus é simples, isto é, ele não é composto; não possui partes, que o limitem.Sendo espírito e infinito, Deus é o único ser criador. Apenas um ser incorpóreo e imaterial poderia criar a matéria, que é finita e não pode gerar a si mesma. Somente Deus pode criar todas as coisas do nada, ou seja, de onde não há matéria.Sendo um espírito puro e simples, Deus não muda. Ele não possui variações, pois possui uma única essência, completamente integrada, sem pecado e imortal. Por esta razão ele é o único ser perfeito e santo (Ap 15.4) e o único completamente imortal, porque não pode separar-se de si mesmo (1Tm 6.16).
4. Em que a espiritualidade de Deus nos afeta
Por não ser limitado à matéria, o Deus-Espírito pode penetrar em todas as coisas. O apóstolo Paulo afirma que o Espírito de Deus penetra até nas profundezas de Deus (1Cor 2.10). Isto nos diz que Ele conhece o nosso íntimo e o profundo do nosso ser. Não podemos nos apresentar diante dele com máscaras ou falsa aparência, porque ele prescruta todas as coisas. Nada lhe pode ser ocultado (Ec 12.14).Todas as características e atributos de Deus estão associados ao ser espiritual, que ele é. Logo, o seu amor não é incerto ou inconstante. Ele não possui variações de humor, nem é influenciado pelo clima, pelo tempo ou pela natureza. Isto indica que podemos ter a segurança que o Deus-Espírito permanecerá fiel às suas características, sem qualquer “mudança ou sombra de variação” (Tg 1.17).Quando a mulher samaritana indagou de Jesus qual o local apropriado para a adoração, Ele respondeu afirmando a espiritualidade de Deus. Isto nos mostra que Deus pode ser adorado em qualquer tempo ou lugar. Ele pode ser buscado e glorificado em todo o tempo e em quaisquer circunstâncias. Em qualquer lugar em que um filho de Deus eleva os seus pensamentos ao Altíssimo, ele recebe a sua adoração.Sendo Deus espírito, só pode ser adorado através do espírito. Isto significa que Deus só poderá ser plenamente adorado por aqueles que tiveram seus espíritos vivificados e completamente renovados pelo Espírito Santo. Significa, também, que rituais, movimentos do corpo ou formalidades devocionais podem constituir a verdadeira adoração. Ela é gerada no espírito, quando nos submetemos plenamente ao Deus, buscando conhecê-lo “em verdade”, ou seja, através da revelação da sua Palavra, compreendemos que, sendo espírito, Ele está “perto” de todos os quebrantados, que o buscam em verdade (Sl 34.18; 145.18).
Obras Consultadas:
PRATNEY, Winkie A. A Natureza e o Caráter de Deus. São Paulo: Editora Vida. 2004
DAGG, John L. Manual de Teologia. São José dos Campos: Editora Fiel. 3ª Edição, 2003.
CAMPOS, Heber Carlos de. O ser de Deus e seus Atributos. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2ª edição, 2002.
PACKER, J. I. Teologia Concisa, São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2ª edição, 2004.
O Conhecimento de Deus. São Paulo: Editora Mundo Cristão. 2ª edição, 2005.
EVANS, William e CODER, S. Maxwell. Exposição das Grandes Doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Batista Regular. 2ª impressão, 2002.
Márcio Klauber Maia