A Personalidade do Espírito Santo
Texto-base: Jo 14.16,17.
O Espírito Santo é uma pessoa. Isto está muito claro no ensino de Jesus e nas características e ações que lhe são atribuídas. Não podemos ser enganados pelo fato dele não possuir um corpo visível, porque a personalidade não é determinada pela aparência exterior, mas por quem somos, interiormente. Personalidade pode ser definida como “tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social” (Wikipédia). É, portanto, aquilo que distingue os seres humanos, em sua individualidade. O que distingue as pessoas dos animais não é a pele, nem o formato do corpo, mas um conjunto de características, tais como a consciência, capacidade de raciocínio e cognição, volição, emoção e intelecto. O Dicionário de Psicologia (W. ARNOLD; H.J. EYSENCK; R. MEILI – Editora Loyola), assim define: “A personalidade é a totalidade psicológica que caracteriza o homem em particular.”
Ao longo da história da igreja muitos tentaram negar a personalidade do Espírito Santo, ensinando que ele é apenas uma força impessoal ou influência de Deus. Como se fosse uma mera emanação que flui do Pai e do Filho, não sendo, ele mesmo, uma pessoa. Não temos dificuldades de ver Deus, o Pai, como uma pessoa, porque podemos facilmente imaginá-lo dando forma a todas as coisas, conversando com Adão e Eva, no jardim, entre outras ações. Também podemos identificar Cristo como uma pessoa, pois ele se fez humano e habitou entre nós. Mas as ações do Espírito Santo podem parecer mais místicas e secretas, assim como seus dons e fruto, e podem obscurecer esta verdade para alguns.
Outras pessoas podem, também, ser confundidas, ao observar os símbolos que as Escrituras atribuem ao Espírito Santo, tais como fogo, vento, pomba, óleo e azeite, e achar que isto pode descaracterizar a sua personalidade. O fato também de, muitas vezes, as saudações das epístolas incluírem apenas o Pai e o Filho (Rm 1.7; 1 Co 1.1,3; 1Ts 1.1 entre outros), podem ser um fato de dificuldade para outros. O estudo detalhado das Escrituras pode ajudar-nos a dirimir estas dúvidas.
1. Características do Espírito Santo
Podemos ver as características da personalidade do Espírito Santo, como a Bíblia descreve:
a) A Bíblia trata-o por pronomes pessoais
Apesar da palavra espírito, no grego (pneuma), ser neutra, a Bíblia não utiliza pronomes neutros para referir-se ao Espírito Santo, mas pronomes masculinos (Jo 16.8,13,14;15.26; 16.7,8).
b) Ele é apresentado em igualdade com as pessoas divinas
Os cristãos são batizados em nome (e não nos nomes) do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme nos ensina Mt 28.19. Ele é citado do mesmo modo que o Pai e o Filho. O batismo não é em nome de pessoas e uma força, mas em nome de três pessoas. De igual modo, a benção apostólica, apresentada em 2 Co 13.14, apresenta a igualdade das pessoas divinas. Isto pode ser visto, ainda, em outras passagens bíblicas, tais como 1Jo 5.7 e Jd 20,21.
O Espírito Santo é uma personalidade distinta dentro da Divindade. Por exemplo, Ele “a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1 Co 2.10); Ele derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5); Ele “intercede por nós” diante do Pai “com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Como Ele poderia fazer estas coisas se fosse o próprio Pai ou apenas uma energia? A fim de perscrutar “as profundezas de Deus”, o Espírito Santo precisa ser plenamente Deus; e para interceder com o Pai, o Espírito Santo precisa ter uma Personalidade distinta do Pai.
c) Alguns nomes do Espírito Santo implicam em personalidade
Consolador: A palavra grega parakletos, é traduzida em 1 Jo 2.1 por advogado e refere-se a Cristo e ele usou esta mesma palavra, traduzida por Consolador em Jo 14.16,26, referindo-se ao Espírito Santo. É interessante notar que a palavra “outro”, nesta passagem, no grego (allos) significa: “outro da mesma espécie” e não heteros, que seria outro de outro tipo.
Jesus refere-se ao Espírito Santo com pronomes masculinos e afirma que Ele o substituirá; e só uma pessoa pode substituir outra.
d) Ele possui características de uma pessoa
A Bíblia apresenta características do Espírito Santo que só podem ser atribuídas a uma pessoa. Uma força impessoal não poderia possuí-las:
• Inteligência. Ele possui poder de conhecimento ou entendimento (1 Co 2.9-11; Jo 14.26)
• Vontade. Ele possui vontade própria e capacidade de escolha (At 13.2; 16.6; 20.28; 1 Co 12.11).
e) A obra do Espírito Santo tanto requer como exibe personalidade
As obras do Espírito Santo demonstram sua personalidade:
• Guia, anuncia (Jo 16.13)
• Fala (At 13.2; Ap 2.7; At 10.19)
• Ensina (Jo 14.26)
• Convence (Jo 16.7,8)
• Intercede (Rm 8.26,27)
• Revela (2 Pe 1.21)
• Testemunha (Jo 15.26)
• Dirige (At 8.29)
• Convida (Ap 22.17)
• Ama (Rm 15.30)
• Conforta (Jo 14.16)
f) O cristão experimenta um relacionamento pessoal com o Espírito Santo
Os apóstolos declararam, no Concílio de Jerusalém: “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28). Este relacionamento não seria possível com uma mera força ou influência. Podemos perceber uma relacionamento pessoal com o Espírito Santo em Jesus (Mt 4.1), Paulo (At 16.6), Felipe (At 8.29,39), entre outros.
g) Ele possui susceptibilidade
O Espírito Santo está suscetível ao tratamento humano, possuindo emoções e sentimentos de uma pessoa.
• Sente-se magoado: (Is 63.10);
• Podemos blasfemar contra Ele: (Mt 12.31,32);
• Podemos resistir a Ele: (At 7.51) ou obedecer-lhe (At 10.19-21);
• Sente tristeza: (Ef 4.30);
• Podemos mentir a Ele: (At 5.3);
• Pode ser ofendido: (Hb 10.29).
• Pode ser tentado (At 5.9).
2. Como pode alguém ser batizado em uma pessoa?
Isto acontece em sentido figurado: significa ser totalmente envolvido ou revestido pelo Espírito Santo. A Bíblia fala em ser batizado em Cristo (Gl 3.27; Rm 6.3) e Moisés (1 Co 10.2) e eles também são pessoas. A Bíblia fala de também de Satanás, que também é uma pessoa possuindo alguém (Lc 22.3).
3. A Bíblia fala de derramamento do Espírito Santo (At 2.17). Como pode uma pessoa ser derramada?
Tem o sentido figurado de entrega de forma abundante. A Bíblia fala de Paulo sendo derramado em forma figurada (Fp 2.17 - Libação é o ato de derramar água, vinho, sangue ou outros líquidos com finalidade religiosa ou ritual, em honra a um deus ou divindade – 2 Tm 4.6 - Aspersão é o ato de borrifar, respingar ou derramar líquidos) e o Messias também (Sl 22.14).
Conclusão
Tendo a perfeita compreensão a respeito da personalidade do Espírito Santo poderemos perceber que não se trata apenas de uma força ou influência impessoal, mas de uma pessoa com quem podemos manter um relacionamento pessoal, alguém a quem devemos adorar e orar. Não é meramente uma força que podemos usar, mas uma pessoa que nos usa como Seus instrumentos. Como pessoa, ele tem entendimento para conhecer as nossas dificuldades e capacidade para nos orientar e ajudar. Ele não está distante e afastado, mas é nosso Divino Companheiro, que mora em nós e está pronto a manter uma vida de intimidade conosco.
BIBLIOGRAFIA
EVANS, Willian e CODER, S.Maxwell. Exposição das Grandes Doutrinas da Bíblia, Editora Batista Regular, São Paulo-SP, 1ª edição, 2000.
DAGG, John L. Manual de Teologia. Editora Fiel, São José dos Campos-SP, 3ª edição, 2003.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática, Edições Vida Nova, 1ª edição, 1997.
Márcio Klauber Maia