A Idolatria
Texto-base: Êxodo 20.4-6
Introdução
Idolatria tem origem nas palavras: eidolon (imagem, ídolo) + latreuein (adorar, cultuar). Trata-se do culto a imagens, a ídolos. Mas, num sentido mais amplo, idolatria é adorar à criação, em vez do Criador (Rm 1.22-23,25; Dt 32.21).
Ídolo é qualquer coisa ou pessoa que colocamos no fundo do coração, em primeiro lugar, depositando nela grande confiança, o que faz dela um deus. Sendo assim, idolatria pode ser a dedicação a uma imagem, a um ídolo, a um líder religioso, a um deus, a alguém que consideramos “santo”, ao ventre, ao poder e a seres ou coisas concretas ou não, reais ou imaginárias, uma vez que até deuses pagãos são criações da mente. A idolatria não requer a existência de qualquer objeto físico. Se alguém adora a um deus falso, sem transformar esse deus em alguma imagem, ainda assim é culpado de idolatria, porquanto fez de um conceito uma falsa divindade. É possível idolatrar-se um emprego, um automóvel, um filho e a nós mesmos ou a atitudes nossas, o que faz com que Deus perca a primazia (Cl 3.5; Fp 3.19; Ef 5.5).
Há uma forte relação entre idolatria e prostituição, pois idolatria é prostituição da fé no Deus único e verdadeiro. A idolatria é infidelidade e prostituição, assim descrita pelos profetas (Jr 3.9; Ez 16.17; Os 4.12). Também existia nos templos pagãos homens e mulheres que atuavam como prostitutas cultuais. As pessoas que queriam ter a bênção de determinado deus, praticava relações sexuais com suas sacerdotisas, num verdadeiro bacanal.
Proibições
A proibição divina abrange:
a) Fazer o ídolo (Êx 32; 2 Rs 21.11; Sl 115.3-9; 135.15-18; Is 2.18; At 15.20; 21.25; 2 Co 6.16) e imagens (Êx 20.1-6; Nm 33.52; Dt 27.15; Is 41.29; Ez 8.9-12; Lv 26.1) - estátua, imagem, ídolo, presépio - para ser objeto de veneração, adoração, culto ou louvor. Isto inclui imagens de Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) e toda a criação de Deus (anjos, pessoas - vivas ou mortas, corpos celestes, animais – Dt 4.15-19) com o mesmo objetivo.
b) Encurvar-se a ele e servi-lo.
O erro não está na imagem ou figura em si, mas no culto que alguns oferecem a elas. Não se condena o fato de produzir esculturas de homens como Santos Dumont, D. Pedro II, etc., mas o fato de ajoelhar diante elas. Mas, se alguém o fizer, será condenado da mesma forma.
Uma imagem também pode ser um amuleto que é concebido como dotado de alguma forma de poder de proteger, de ajudar, ou de permitir alguma realização.
Alguns argumentam que o próprio Deus ordenou, no Antigo Testamento, a confecção de imagens. Precisamos, porém, observar o propósito delas:
Querubins
Deus mandou fazer dois querubins de ouro (Êx 25.18; 26.1; 1Rs 6.23; 8.7; Hb 9.5), mas em nenhum momento mandou que adorassem ou venerassem estas estátuas. Não há um único registro de algum israelita fazendo pedidos a eles ou promessas a estes querubins. Sem dúvida, esses querubins não eram adorados, nem eram padroeiros dos hebreus, nem intercediam por eles, nem eram recordações de pessoas que eles veneravam.
Além disto, os querubins estavam dentro do santuário e, portanto, só eram vistos pelos sacerdotes, que tinham autorização para entrar lá.
Serpente de Bronze
Deus mandou construir uma serpente de bronze para resolver uma situação específica: livrar os israelitas da morte causada por serpentes (Nm 21.8-9) e para ser um tipo de Cristo (Jo 3.14,15; Is 45.22), mas quando ela foi objeto de culto, foi destruída (2 Reis 18.4). Ezequias a chamou de Neustã (pedaço de bronze), dando a entender que a tal serpente era metal e nada mais.
Ornamentos
Há também casos de ornamentação do templo de Deus (1 Rs 6.17-36; 2 Cr 3.5-17; 4.1-22; Ez 41.17-26). Porém, todos esses objetos e imagens não eram para invocação, intercessão, ou para adoração, mas apenas ornamentação.
A Bíblia proíbe adorar anjos e homens
Culto aos anjos: Em duas ocasiões (Ap 19.10; 22.9) a Bíblia registra que um anjo rejeitou a adoração que o apóstolo João lhe quis prestar. O apóstolo Paulo deixou claro que não se deve cultuar aos anjos (Cl 2.18);
Culto aos santos: O apóstolo Pedro recusou ser adorado por Cornélio (At 10.25,26); O apóstolo Paulo, juntamente com Barnabé, recusou ser adorado na cidade de Listra (At 14.11-18). Se enquanto estavam vivos estes homens não receberam adoração, tanto mais estando mortos não se deve adorá-los.
Se eles estão mortos e seus espíritos são invocados, isso é invocação de pessoas que já morreram e isso é pecado (Is 8.19; 1 Tm 2.5). Essa prática parece mais com o espiritismo do que com o cristianismo. Além do mais, há um só mediador ou intercessor entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem (1 Tm 2.5).
Se os que morreram não podem interceder pelos que estão vivos, e nem voltar para a terra (Lc 16.19-31; 1 Tm 2.5; Hb 9.27; Ec 9.10), não podem também ajudar a quem quer que seja. Quem pode responder essas invocações e orações são os espíritos deste mundo (1 Co 8.4-6 e 1 Co 10.14-24).
A idolatria está vinculada à adoração aos demônios (1 Co 10.20,21; Lv 17.7; Dt 32.16,17; 2 Cr 11.15; Sl 106.37-39; 2 Co 4.4; Ap 9.20).
Os idólatras não entrarão no céu (1 Co 6.9,10), mas o lugar definitivo deles é o Lago de Fogo (Ef 5.5; Ap 14.9-11; 21.8).
A inutilidade dos ídolos
Os ídolos não podem salvar (Is 45.20);
Os que confiam neles serão confundidos (Is 42.17; 44.17-20);
O ídolo não responde nem livra da tribulação (Is 46.7; 1 Rs 18.26-29);
São mentira, obra de enganos (Jr 10.14; 51.17,18). A idolatria ensina a mentira (Hc 2.18,19);
As imagens de fundição são vento e nada (Is 41.29; 1 Co 8.4);
Têm boca, olhos, ouvidos, nariz, mãos, pés e garganta, mas não têm nenhum sentido (Sl 115.3-8).
São impotentes (1 Sm 5.3-6), enquanto Deus é onipotente.
Orientações bíblicas acerca da idolatria
O Senhor Jesus afirmou categoricamente que só devemos adorar a Deus (Mt 4.10).
O apóstolo Paulo: “Fugi da idolatria” (1 Co 10.14).
O apóstolo João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21).
O apóstolo Pedro: “não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, ... em abomináveis idolatrias” (1 Pe 4.2,3);
Tiago, irmão do Senhor: “se abstenham das contaminações dos ídolos” (At 15.13,20).
Devemos orar direta e exclusivamente a Deus (Mt 6.9-13; At 1.24-25; 7.59-60; 4,24-30; 2 Co 12.8; Ap 22.20; Jo 15.16; 14.14; Gn 4.26; 18.23-32; 24.12-14; 25.21; 28.20-22; Jz 16.28, etc.).
Conclusão
Deus quer que confiemos nele e que dirijamos nossas súplicas a ele, que o adoremos, o cultuemos e o veneremos com exclusividade absoluta. Sua honra e sua glória não podem ser divididas com ninguém, muito menos com estátuas ou monumentos (Is 42.8). Ele tem ciúme de nós (Tg 4.5) e requer exclusividade na veneração e adoração de seu povo.
Obras consultadas
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 3. 6ª edição. São Paulo: Hagnos, 2002.
DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. 22ª edição. Rio de Janeiro: Hagnos, 2002.
Carlos Kleber Maia