Doutrina: A Comunhão dos Santos
Leitura: At 2.41-47
Comunhão: participação em comum em idéias, crenças, etc. A comunhão consiste em um acordo em que diversas pessoas unem-se e chegam a participarem juntas de uma determinada coisa (2 Co 6.14 e 1 Jo 1.3). Uma união de propósitos e interesses.
A grande importância da Igreja reside precisamente nisso: ela atrai pessoas para a atmosfera reconfortante de uma comunhão, pela qual anela o espírito humano.
Comunhão é “um compartilhamento íntimo e amoroso de certas bênçãos espirituais por pessoas que estão na mesma condição diante da benção que compartilham” (A.W. Tozer).
Por comunhão dos santos entende-se a união que existe entre todos os santos, desde o Pentecostes até o arrebatamento. “A igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos”. Por “santos”, aqui, entende-se os membros da Igreja, e não os santos canonizados. Não há comunicação com os santos do céu, mas certamente há comunhão (Hb 12.22-24; Jo 17.20,21). Essa é a Igreja Cristã invisível. É considerada invisível porque ninguém pode ver a fé do outro. Ela é invisível para os homens, mas não para Deus, pois "o Senhor conhece os seus" (2 Tm 2.19). A comunhão perfeita entre céu e terra somente ocorrerá na “plenitude dos tempos” (Ef 1.10,23).
A palavra grega koinonia (comunhão) significa compartilhar ou participar mutuamente de algum evento comum ou acordo. No AT a idéia de comunhão diz respeito ao relacionamento do homem com o seu próximo (Sl 133.1) e não do homem com Deus. Mesmo o fato de Abraão ser chamado “amigo de Deus” (Tg 2.23) e Moisés ter falado com Deus face a face (Dt 34.10), não significa que hajam eles provado a mesma comunhão com Deus, como os crentes da nova aliança (Jo 15.14). A comunhão no NT envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13). A comunhão começa com a Trindade, e amplia-se para os filhos de Deus (Jo 17.3,6,10,11, 14). O termo grego koinonía envolve também as idéias de companheirismo e contribuição, pois essa é uma maneira de compartilharmos com outras pessoas de nossas posses materiais.
No grego, a idéia é expressa por um verbo e um substantivo, a saber:
1. Omiléo, (comungar com). Esse verbo aparece 3 vezes: (Lc 24.14,15; Atos 20.11 e 24.26).
2. Koinonía, (comunhão). Esse substantivo ocorre por 18 vezes: At 2.42; Rm 15.26; 1 Co 1.9; 10.16; 2 Co 6.14; 8.4; 9.13; 13.13; Gl 2.9; Fl 1.5; 2.1; 3.10; Fm 6; Hb 13.16; 1 Jo 1.3,6,7.
Somos participantes da mesma natureza: os redimidos e santificados. Partilhamos da mesma vida (a vida eterna que Cristo nos dá) e da mesma verdade (o testemunho do evangelho de Cristo).
As metáforas utilizadas para representar a igreja falam de comunhão:
· Somos uma família. Somos irmãos, da família de Deus (Ef 2.19; 3.15). Deus é representado como um Pai de família e nós, seus filhos e servos (Mt 12.49-50; 13.27; 20.1; 2 Co 6.18; 1 Jo 3.14-18). Devemos tratar uns aos outros como uma família (1 Tm 5.1,2).
· Somos um corpo, o Corpo de Cristo (Rm 12.4,5; 1 Co 12.12-27; Ef 4.15-16). Um membro do corpo de preocupar-se com o outro: orar, apreciar, preferir (Fp 2.1-4). Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo e há interdependência delas (Ef 4.16; Cl 2.19). A Igreja é um corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu corpo.
· Somos uma casa, edificada sobre a “pedra angular” que é Cristo (Hb 3.6; 1 Pe 2.4-8) e um edifício (1 Co 3.9).
· Somos uma videira - Cristo é a vinha, e nós somos os ramos, pelo que devemos pensar em uma comunhão orgânica (Jo 15.5), uma oliveira (Rm 11.17-24), uma lavoura (1 Co 3.6-9), e uma colheita (Mt 13.1-30; Jo 4.35).
Tipos de comunhão:
1. Celebração: Os crentes se reúnem para a adoração a Deus, desfrutando da presença de Cristo (Mt 18.20).
2. Refeição: os momentos de refeição em comum provêm, tanto em casa como em sociedade, momentos de intensa comunhão (1 Sm 16.11; 2 Sm 9.13; Lc 13.29).
3. Contribuição. O vocábulo grego koinonía pode significar contribuição (Rm 15.26 - refere-se à contribuição das igrejas para os crentes pobres de Jerusalém). Um bom membro da comunidade cristã compartilhava de sua abundância material com aqueles que possuíam menos; e isso era um tipo de comunhão. A comunhão indica “partilhar” de alguma coisa (2 Co 8.23; Rm 11.7; Fl 1.7; 1 Pe 5.1). Também indica participar com algo (2 Co 9.13; Fl 1.5; Rm 15.26; At 2.44; 4.32; Gl 2.9; 1 Jo 1.3).
4. A Ceia do Senhor. Para muitos cristãos, os termos “comunhão" e “Ceia do Senhor” são sinônimos. A Ceia é comunhão (1 Co 10.16). Comunhão com o Pai e com o Filho (1 Jo 1.3)
Elementos que envolvem a comunhão:
1. Amor : A marca dos discípulos de Cristo é o amor uns pelos outros (Jo 13.35; 1 Jo 1.7). Amor fraterno deve existir entre os crentes (Hb 13.1; 1 Pe 3.8). A palavra no grego usada para amor fraternal é filadélfia. A igreja do amor fraternal, foi dito: “Guarda o que tens” (Ap 3.11).
2. União: Jesus declara que a unidade da igreja é um testemunho para os descrentes (Jo 17.20-23). Paulo conclama a igreja à união e não a divisão (1 Co 1.10-13). Quem ama a Deus e não ama a seu irmão, é mentiroso (1 Jo 4.20). Temos uma só fé, um só Espírito, um batismo, um Senhor (Ef 4.5,6; Fp 1.27). O caminho para a união é a humildade (Fp 2.2-5). É bom viverem (hebraico yachab: permanececer, habitar) unidos os irmãos (Sl 133.1).
3. Paz: Deus deseja que o corpo de Cristo se esforce para que tenha paz (Rm 12.18; 14.19; 2 Co 13.11; Cl 3.15; Ef 4.3; 1 Ts 5.12,13; 2 Tm 2.22; Hb 12.14; 1 Pe 3.11). Pelo Espírito Santo temos paz com Deus e com os irmãos (Rm 8.6; Gl 5.22). O Senhor é Deus de paz (1 Co 14.33; Hb 13.20).
4. Atitude: Devemos estender a mão da comunhão (Gl 2.9). O trabalho social é também uma forma de evangelizar. Aliás, é essa a linguagem que o mundo entende (1 Jo 3.17).
5. Intercessão: a oração dos santos por outros é de suma importância para a perfeita comunhão (2 Co 1.11; Ef 6.18; Rm 15.30). O Espírito Santo muitas vezes desperta alguém no corpo de Cristo para interceder por outro (Ef 3.14).
6. Cuidado mútuo (Cl 3.16). A Bíblia manda fazer uns aos outros: servir humildemente (Jo 13.14; Gl 5.13), amar (Jo 13.34), preferir (Rm 12.10), receber (Rm 15.7), cumprimentar afetuosamente (Rm 16.16), suportar (Ef 4.2), perdoar (Ef 4.32), ensinar (Cl 3.16), consolar (1 Ts 4.18), edificar (1 Ts 5.11).
7. Uso dos Dons espirituais: São concedidos por Deus para promover a edificação (1 Co 14.26; Ef 4.12) e a unidade da igreja (Ef 4.13, 1 Co 12.25). Deus repartiu com os membros dons diferentes (1 Co 12.29,30), para que haja diversidade na realização da Sua obra (1 Co 12.4-6), atendendo a cada necessidade do Corpo de Cristo (Rm 12.4-8; 1 Co 12.17-20). Esta diversidade dos dons também promove a interdependência entre os membros, para que ninguém se julgue superior ou auto-suficiente (1 Co 12.21,22).
Fomos chamados à comunhão (1 Co 1.9). Devemos “levar a carga uns dos outros” (Gl 6.2). A comunhão não é uma opção, mas a única possibilidade que nos foi ordenada (Ef 4.1-3).
Exemplos bíblicos de comunhão: Jônatas (1 Sm 23.16); Davi (Sl 119.63); Daniel (Dn 2.17,18); os apóstolos (At 1.14); a Igreja primitiva (At 2.42); Paulo (At 20.36-38).
Comunhão entre as igrejas
A unidade da igreja não implica num único governo eclesiástico mundial, mas no senhorio de Cristo sobre toda igreja local. Devemos trabalhar para manter a unidade do Corpo, pois a Bíblia nunca recomenda a separação entre salvos, mas somente entre salvos e incrédulos (2 Co 6.14).
Separação do mundo
Não devemos manter comunhão com os ímpios (2 Co 6.14-17). Eles estão fora da comunidade dos salvos. A comunhão de duas naturezas espirituais opostas (luz/trevas, santo/impuro, Cristo/demônios) é impossível.
Obras consultadas:
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 6ª edição. São Paulo: Hagnos, 2002.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
TOZER, A.W. Verdadeiras Profecias: para a alma em busca de Deus. São Paulo: Editora dos Clássicos, 2003.