Doutrina: Salvação-Justificação
Leitura: Rm 5.1-17
Definição
É um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei estão satisfeitas a favor do pecador (At 13.39; Rm 5.1,9; 8.30-33; 1 Co 6.11; Gl 2.16; Gl 3.11). Na justificação estão incluídos o perdão, a adoção, a substituição vicária e a imputação.
O uso na Bíblia do termo justificar indica uma declaração legal da parte de Deus, na qual Ele nos declara justos, nos justifica (Rm 3.20, 26, 28; 5.1; 8.30; 10.4, 10; Gl 3.24; Is 50.8). A idéia de que a justificação é uma declaração legal fica clara no contraste com a condenação (Rm 8.33,34). A justificação é um ato forense de imputação da justiça de Cristo ao crente e não uma infusão de santidade no indivíduo. Ou seja, não é o caso de tornar uma pessoa boa, mas declará-la justa. Justificação é um ato judicial de Deus que ocorre no tribunal divino e não na alma humana, como a regeneração. Na regeneração, Deus age em nós; na justificação Ele age por nós. Se justificar fosse tornar bom, justo, não fazia sentido textos onde Deus condena quem justifica o culpado (Pv 17.15; Is 5.23), pois tornar alguém uma boa pessoa é agradável a Deus.
A justificação envolve dois aspectos:
a) O perdão dos pecados – não temos mais que pagar pelos pecados cometidos. (Rm 8.1, 33, 34; 4.6-8; Jo 5.24; Lc 18.14). Entretanto, se Deus apenas nos perdoasse, ficaríamos em situação neutra diante dele. Mas Ele faz muito mais do que isto.: Ele nos imputa a justiça de Cristo.
b) A imputação da justiça de Cristo – Deus considera a justiça de Cristo como sendo nossa (Rm 4.3; 5.17,19). Na Bíblia, vemos três vezes a imputação de culpa ou justiça: 1. Quando Adão pecou, sua culpa foi imputada a nós; 2. Quando Cristo morreu, nossos pecados foram imputados a Ele; 3. Na justificação, a justiça de Cristo é imputada a nós. Não se trata de nossa justiça própria, a justiça de Jesus que gratuitamente é atribuída ao homem (Fp 3.9; 1 Co 1.30).
A justificação é efetuada inteiramente pela graça de Deus e não pelos méritos humanos (Rm 3.20, 23, 24). Não é por causa de nossa bondade, mas unicamente pela bondade de Deus, revelada na obra de Cristo (Rm 5.17-19). A base da justificação encontra-se na obra mediadora de Cristo, pois Ele satisfez a justiça divina por seu sacrifício propiciatório, como representante do homem. A justificação não ocorre por causa de nenhuma boa obra humana. Se nossa justiça provém da obediência à Lei, Cristo morreu em vão (Gl 2.21). Não é por muitos anos de serviço na igreja, mas tão somente pela graça divina em nosso favor (Gl 3.24).
Como alcançamos a justificação?
Apropriamo-nos desta dádiva divina através da fé em Cristo (Gl 2.16; Rm 3.25, 26, 30; 5.1). A fé demonstra nossa dependência de Cristo no que tange à nossa salvação (Rm 4.16). No entanto, a fé não é o fundamento da justificação, mas apenas a mão estendida para aceitar o dom de Deus.
A justificação envolve três partes, todas voluntárias: Jesus dispõe-se voluntariamente a morrer por nós e unir-se com o pecador; O pecador dispõe-se a aceitar esta salvação, unindo-se a Cristo; O Pai aceita isto de bom grado. Assim, tudo é completamente ético e legal.
Fé e obras
A Epístola de Tiago diz que somos justificados por obras e não por fé somente (Tg 2.24). Porém, Tiago está usando a palavra justificado num sentido diferente de Paulo; não “declarar justo”, mas “provar ser justo” (Lc 16.15; 10.28,29; Mt 11.19; Lc 7.35; Rm 3.4). Tiago está argumentando contra aqueles que dizem ter fé, mas não apresentam mudança alguma em suas vidas (Tg 2.18).
A Bíblia é clara em declarar que a justificação não é pelas obras (Ef 2.8-10), mas indica que o crente justificado deve praticar obras apropriadas à sua nova natureza (2 Co 13.5; Gl 5.19-24). A imputação da justiça vem sempre acompanhada da santificação interna (1 Co 6.11). Se a nossa culpa do pecado foi removida pela obra de Cristo e somos agora novas criaturas, devemos andar de forma diferente do tempo em que vivíamos na perdição, longe de Deus (1 Pe 4.2). Se os crentes vivem na mentira, na desobediência, na sensualidade igual aos incrédulos, que diferença haverá?
Conseqüências do Pecado
É necessário fazer-se a distinção entre as conseqüências temporais e eternas do pecado. Quando alguém é justificado, as conseqüências eternas do pecado são canceladas, mas as conseqüências temporais não são necessariamente removidas. Davi, por exemplo, sofreu as conseqüências do seu pecado, mesmo tendo sido perdoado (2 Sm 12.13,14). O ladrão da cruz morreu agonizando ali, apesar de ter sido perdoado (Lc 23.43; Jo 19.31,32). O pecado é algo grave. Mesmo o perdão de Deus sendo ilimitado e acessível, o pecado trará conseqüências graves.
Importância desta doutrina
1. É a verdadeira esperança para pecadores que nunca poderiam justificar-se a si mesmos, mas que pela fé em Cristo serão justificados por Ele.
2. Dá-nos confiança de que Deus nunca nos fará pagar por pecados perdoados pelos méritos de Cristo.
3. Traz-nos paz com Deus (Rm 5.1) e preserva-nos da Sua ira (Rm 5.9). Temos a certeza da glorificação final (Rm 8.30) e a libertação presente da condenação (Rm 8.33,34), além da herança da vida eterna (Tt 3.7).
Obras consultadas:
ERICKSON, Millard, T. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.